Sem maiores enrolações, respondo: ninguém precisa de uma newsletter de contos. Por isso mesmo resolvi escrever uma. As pessoas gostam de pensar o contrário, mas a literatura é inútil — graças ao Deus Pai.
Sou Flávio VM Costa, publico reportagens em uma coluna no UOL e faço consultoria para a equipe da Alma Preta.
Escrevo também um romance. Será lançado pela Editora Ponta de Lança em algum momento de 2025.
Publiquei dois livros de contos: Caçada Russa (Penalux, 2016) e Você morre quando esquecem seu nome (Bissau, 2020).
Uma associação cultural japonesa muito simpática me deu o terceiro lugar em um certame pelo meu primeiro livro. O vencedor foi um cara que passou a cerimônia toda dizendo “meus contos contam duas estórias, uma estória dentro da outra, descubra o significado delas, meus contos contam duas estórias!”
Os contistas, meus amigos. Somos esse tipo de malucos.
Desde já aviso: alguns dos meus contos mal chegarão a contar uma estória. Vamos fingir que eu sou de vanguarda.
“Tenente Marcus”, um dos contos da segunda coletânea, venceu um prêmio da Prada. Ganhei alguns milhares de euros e nenhuma bolsa da grife. Desperdicei parte do dinheiro pagando dívidas. O resto eu investi em livros e lanches para Cássia, meu rebento, e em outros artigos de primeira necessidade (um tênis de corrida muito caro, por exemplo, eu destruí em menos de um ano).
Quem são os contistas de minha predileção? Um monte de gente morta.
Minha lista começa com Lima Barreto e João Antonio.
E segue com Clarice Lispector, Alice Munro e Flannery O’ Connor.
Gosto também dos malucos Yukio Mishima e Samuel Rawet, dos ritmistas Roberto Bolaño e Sergio Sant’Anna, do insuperável Machado de Assis. Que adjetivo idiota eu usei, mas alguém conseguiu escrever um conto melhor do que “Pai contra Mãe”? Eu duvido.
Os russos também, claro. Sou envenenado por essa gente desde que comecei a ler com seriedade: Gógol, Turguêniev, Tchekhov, Bábel, Búnin, Nabokov, Chalámov e outros de nomes difíceis que não convém arrotar por aqui.
Sim, Tolstói e Dostoiévski escreveram contos maiúsculos, mas a parada deles era outra.
Os contos de Juan Carlos Onetti e Isaac Bashevis Singer são minha profissão de fé.
Eu deveria citar também Ernest Hemingway, Raymond Carver, Lucia Berlin, Rubem Fonseca e Gabo? Deveria citar alguém vivo? Cito então Conceição Evaristo. E alguém pode me garantir que Dalton Trevisan realmente esteja vivo?
A verdade é que sou um pouco sem critério na vida e gosto de muitos contistas, os únicos animais que escrevem contos.
A newsletter vai funcionar da seguinte maneira:
Vou enviar dois contos por mês, aos sábados.
Quem se inscreveu na lista de transmissão vai receber gratuitamente os contos de números ímpares.
Os contos pares serão exclusivos de quem se dispuser a pagar por eles.
Dez reais paga a mensalidade. Há outras opções para colaborar com o sustento da newsletter. Meu manager e feitor Emílio Moreno estabeleceu as condições. Reclamem com ele.
Peço de coração que considerem ajudar financeiramente a newsletter.
Não esperem lições de moral, defesas do belo, do justo, do certo. Como leitor de ficção, nunca busquei esse tipo de coisa.
Não dá para fazer muita coisa com um conto, além de lê-lo.
Talvez vocês encontrem nos contos conexões com suas próprias estórias e assim a gente possa estabelecer uma comunicação, mesmo de forma tênue e breve? Pode ser. Talvez a gente só precise ler a estória dos outros para que possamos esquecer um pouco as nossas? Deixo as respostas com vocês.
A gente escreve ficção por vários motivos, alguns obscuros. Gosto de pensar que é uma forma divertida de pentelhar as pessoas, de conversar sem invadir o espaço do outro.
Se a coisa pegar tração, talvez eu envie também crônicas, anotações de viagens para lugares inóspitos (vou com regularidade ao centro de São Paulo), aforismos, sonhos, dicas de apostas esportivas.
Por enquanto é isso, dois contos por mês. Ah, os assinantes pagos também vão receber, a cada dois meses, um texto com cinco indicações literárias.
Espero que vocês gostem de verdade da newsletter.
Se não gostarem ou mesmo que ninguém leia, eu vou continuar escrevendo da mesma forma. Porque sou um bicho que escreve contos.
Sábado, dia 9, envio para vocês a primeira estória.
Abraços,
Flávio VM Costa.
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